Câncer de Mama Relacionado ao Trabalho ~ Carla Pontes Advogada| Acidente do Trabalho e Doença Ocupacional Mental

Câncer de Mama Relacionado ao Trabalho


 


Câncer de Mama Relacionado ao Trabalho: Exposição Ocupacional, Direitos trabalhistas e previdenciários



O câncer de mama é uma das principais causas de morte entre mulheres no Brasil e no mundo. Embora muitos fatores de risco sejam conhecidos, como predisposição genética e estilo de vida, a exposição a substâncias cancerígenas no ambiente de trabalho podem aumentar significativamente as chances de desenvolver essa doença, uma vez que apenas 5% dos casos de câncer de mama está relacionado com histórico familiar.  Porque isso ocorre? Quais são os direitos trabalhistas e previdenciários das mulheres diagnosticadas com câncer de mama ocupacional? Vamos responder às principais dúvidas sobre esse tema.


O câncer de mama pode estar relacionado ao trabalho?

Sim. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), algumas substâncias presentes no ambiente de trabalho são classificadas como cancerígenas e podem contribuir para o desenvolvimento do câncer de mama. A exposição prolongada a esses agentes pode levar a alterações celulares que resultam no aparecimento da doença.

A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), órgão ligado à OMS, já reconheceu que certas substâncias químicas e fatores ambientais no trabalho aumentam o risco de câncer de mama, especialmente em mulheres expostas por longos períodos.


Quais são as substâncias cancerígenas presentes no ambiente de trabalho que podem desencadear o câncer de mama?

As principais substâncias e agentes presentes no ambiente ocupacional que estão associadas ao câncer de mama, segundo estudos do INCA e da IARC:

Tabela 1- Substâncias cancerígenas encontradas no ambiente de trabalho

Substância

Onde é encontrada?

Como ela aumenta o risco de câncer de mama?

Solventes Orgânicos (benzeno, tolueno, xileno)

Indústria química, limpeza industrial, gráficas, fabricação de plásticos e tintas

Alteram o equilíbrio hormonal e podem causar mutações no DNA das células mamárias

Pesticidas e Agrotóxicos (DDT, organofosforados)

Agricultura, indústria de alimentos, controle de pragas

Podem atuar como disruptores endócrinos, interferindo nos hormônios femininos

Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs)

Indústria do petróleo, produção de plásticos e borrachas, metalurgia

São cancerígenos e podem afetar a expressão genética das células mamárias

Radiação Ionizante (raios X, radiação gama)

Hospitais, clínicas radiológicas, indústrias nucleares

Pode causar mutações diretas no DNA das células mamárias

Bifenilos Policlorados (PCBs)

Indústria elétrica, fabricação de plásticos e lubrificantes

Alteram o metabolismo hormonal e favorecem a proliferação de células malignas


Quanto tempo leva para aparecerem os sintomas?

O tempo de desenvolvimento do câncer de mama relacionado ao trabalho varia conforme a substância e o grau de exposição.

O tempo de latência, ou seja, o período entre a exposição a um agente cancerígeno e o desenvolvimento do câncer pode variar.

Isso significa que muitas mulheres podem desenvolver o câncer de mama décadas após terem sido expostas a substâncias cancerígenas no ambiente de trabalho, dificultando a identificação da relação entre a doença e a profissão exercida no passado. Ver tabela abaixo:

Tabela 2 Substância cancerígena e tempo de latência

Substâncias

Prazo de latência

Solventes Orgânicos

10 a 30 anos

Pesticidas e Agrotóxicos

15 a 40 anos

HPAs

20 a 40 anos

Radiação Ionizante

5 a 20 anos

PCBs

10 a 30 anos

Ou seja, os efeitos da exposição podem demorar décadas para se manifestar, tornando essencial a prevenção e o reconhecimento precoce da relação entre o trabalho e a doença.

Por isso a importância de que o médico ao fazer o diagnóstico do câncer de mama colher o histórico das atividades profissionais desenvolvidas pela paciente. Só assim poderá relacioná-lo ao ambiente de trabalho e a paciente fará jus a direitos trabalhistas e previdenciários, mesmo que a paciente tenha saído do emprego há 15 anos. Haja vista o tempo de latência para o desenvolvimento do câncer de mama ocupacional.  

 

Quais são as profissões com maior risco de a trabalhadora desenvolver Câncer de Mama relacionado ao trabalho?

Algumas categorias profissionais apresentam maior exposição a agentes cancerígenos associados ao câncer de mama, entre elas:

·        Trabalhadoras da Indústria Química: contato frequente com solventes e hidrocarbonetos (cosméticos, tintas, solventes, plásticos);

·        Agricultoras e Trabalhadoras Rurais: exposição a pesticidas e agrotóxicos sem proteção adequada;

·        Profissionais da Saúde: exposição à radiação ionizante e a produtos químicos em hospitais, laboratórios, clínicas;

·        Funcionárias de Estações de Tratamento de Resíduos: contato com substâncias químicas tóxicas;

·        Trabalhadoras da Indústria de Plásticos e Borrachas: manipulação de compostos como HPAs e PCBs;

·        Metalúrgicas e Soldadoras: exposição a vapores metálicos e combustíveis fósseis;

·        Trabalhadoras da indústria metalúrgica e petroquímica: contato com hidrocarbonetos e derivados do petróleo;

·        Trabalho noturno – alteração do ritmo circadiano.

Se você trabalha em uma dessas áreas, é essencial adotar medidas preventivas e exigir o fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs), além de acompanhamento médico periódico.


Quais são os direitos trabalhistas e previdenciários que pacientes com câncer de mama ocupacional têm direito?

Quando o câncer de mama tem relação comprovada com o ambiente de trabalho, a trabalhadora pode ter direito a benefícios específicos, incluindo:

1. Estabilidade no Emprego

A trabalhadora diagnosticada com câncer de mama tem garantia de estabilidade de 12 meses após o retorno do afastamento pelo INSS, conforme a Súmula 443 do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

2. Auxílio-doença Acidentário (B91)

Se a doença for reconhecida como ocupacional, o auxílio-doença será acidentário, garantindo estabilidade e recolhimento do FGTS durante o afastamento.

3. Aposentadoria por incapacidade Permanente (Invalidez)

Se o câncer impedir o retorno ao trabalho, a trabalhadora pode solicitar a aposentadoria por incapacidade permanente, não exige tempo mínimo de contribuição se houver relação com o trabalho.

4. Indenização por danos morais e mmateriais

A empresa pode ser responsabilizada caso fique comprovada a negligência na proteção da trabalhadora, cabendo indenização por danos morais e materiais.

5. Isenção de Imposto de Renda na Aposentadoria

Pacientes com câncer têm direito à isenção do Imposto de Renda sobre os rendimentos da aposentadoria.

6. Saque do FGTS e PIS/PASEP

O diagnóstico de câncer permite o saque do saldo do FGTS e PIS/PASEP.

7. Tratamento pelo SUS e Medicamentos Gratuitos

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece diagnóstico, tratamento e medicamentos gratuitos para pacientes com câncer de mama.


Considerações Finais

O câncer de mama relacionado ao trabalho apesar de ser invisível, é uma realidade que precisa ser discutida e reconhecida.

Muitas trabalhadoras estão expostas diariamente a substâncias cancerígenas sem a devida proteção, o que pode comprometer sua saúde a longo prazo. O conhecimento sobre direitos trabalhistas e previdenciários é essencial para garantir que mulheres tenham acesso ao suporte necessário durante o tratamento.

Se você suspeita que seu câncer de mama tem relação com a sua profissão, procure um advogado especializado para garantir seus direitos e buscar as compensações adequadas.


Este artigo tem caráter informativo e não substitui a consulta a um profissional especializado.

Permitida a reprodução do conteúdo publicado, desde que registrado a AUTORIA e citada a fonte.


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Sobre a Autora:
Carla da Silva Pontes é editora de [Carla Pontes | Advogada trabalhista acidentária],  Advogada em Direito Acidentário, Médico e da Saúde, com Formação em Direito Médico; Capacitação em Direito Médico e Bioética; Capacitação em Indenização por acidente do trabalho, Capacitação em Gestão e Direito da Saúde, Especialista em Direito material e Processual do Trabalho; Especialista em Direito Civil, negocial e imobiliário; Mestre em Engenharia Biomédica e também Graduada em Fisioterapia. Instagram @carlapontes.adv

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